terça-feira, 12 de outubro de 2010

Tropa de Elite: um filme osso duro de roer!

O enredo de Tropa de Elite 2 poderia ser contado sem as cenas de sangue, tortura e corpos cremados, mas como encher as salas de cinema sem a atração da violência? Mais Norte-Americano do que nunca, o filme mostra que o Brasil tem assunto de sobra para o cinema de ação, mas a velocidade e os planos ainda são emprestados do “país de cima”.

Mas preciso reconhecer: o filme cresce com os conflitos pessoais do Capitão Nascimento, interpretado brilhantemente por Wagner Moura, e o roteiro deste novo filme traz um toque de suspense à trama, que faltou em Tropa de Elite 1, com o jogo de interesses, corrupção e politicagem que fez surgir e crescer as milícias no Rio de Janeiro.

O filme foi guardado como um tesouro: o diretor José Padilha afirma que deixou os originais num banco que exigiu que a equipe do filme não revelasse onde o filme foi “depositado” por medo de assalto. Mais valioso do que dinheiro, Tropa contribui para a popularização do cinema brasileiro. Ouvi várias pessoas, que não costumam ir ao cinema, e assistiram Tropa 1 em DVD pirata, afirmarem que desta vez iriam assistir ao filme na telona. O que posso garantir para elas é que, se é de sangue, violência e ação que gostam, diversão é o que não vai faltar!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Comer, rezar e amar: filme que faz dormir e acordar!

Os primeiros trinta minutos de filme foram angustiantes para mim: um namorado tremia as pernas, impaciente, enquanto a namorada inclinava o seu rosto em direção à tela do cinema e, eu, atenta ao filme e ao meu entorno, tinha dificuldade de me concentrar nos dramas e descobertas de Liz, autora do livro Comer, Rezar e Amar, agora interpretada por Julia Roberts.

Depois dos trinta minutos iniciais, o namorado baixou a cabeça e dormiu até o final. Olhei para o meu lado direito e observei o MEU namorado assistir ao filme como quem entende, ou quer entender aquela mulher que quer tudo ao mesmo tempo: paz, prazer e amor. Ufa! Pensei aliviada. Acho que não suportaria um homem que dorme enquanto uma mulher chora, mesmo que seja na ficção.

A verdade é que o filme não tem um roteiro fantástico, nem grandes interpretações, mas saí da sala de cinema querendo viajar e passar meses numa mesma cidade, conhecendo as pessoas, provando as comidas, descobrindo os esconderijos onde os turistas não transitam...

Lembrei dos roteiros de viagem que não deixam espaço para o turista respirar: conheça 20 cidades em 10 dias. Será possível conhecer alguma? Essa pressa, esse excesso nos deixa cegos, incapazes de perceber as inúmeras cidades que existem em cada uma. Talvez conhecer de passagem seja uma forma de não ser modificado pelo local, de não se comprometer com ele, de não fazer vínculos, nem deixar rastros. 

O caminho, que levava Liz a descobrir os detalhes de cada uma das três cidades onde morou durante um ano, é a própria jornada em busca de si e do seu equilíbrio. Cada sabor, cor, desejo ou paisagem aproximava Liz de uma vida equilibrada, até ser surpreendida por uma paixão, e ver sua balança ficar totalmente descompensada. Antes de fugir do que não podia dominar, um xamã sem dentes falou para Liz talvez a maior descoberta de sua viagem: “Liz, Liz, perder o equilíbrio por amor faz parte de uma vida equilibrada”, revelou.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Filme A Origem: perturbador

Como um pesadelo do qual não se pode escapar, o filme de Christopher Nolan é estranho, deixa dúvidas, mas é muito difícil ficar livre da sensação angustiante de que ele ainda não acabou. A história fala de como é fina a linha que separa o sonho da suposta realidade.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um habilidoso ladrão de segredos. Ele aproveita o momento do sonho, quando perdemos o número do cofre onde guardamos o que não queremos divulgar, para extrair informações. Seu novo desafio é entrar no sonho de um jovem e milionário herdeiro na tentativa de implantar uma falsa ideia que o levaria a vender a empresa do seu recém falecido pai.

Mas implantar uma ideia é mais complexo do que extrair informações, é preciso descer os degraus obscuros do subconsciente e fazer crer que a ideia é do sonhador, só assim ela irá crescer e se tornar ações, escolhas. O problema é ficar perdido nas profundezas da mente. Como saber se estamos dormindo ou acordados? Qual mundo é real? Existe um mundo real, ou ele é sempre imaginário?

Envolvente e caótico, o filme lhe deixa a sensação de prolongamento da sessão de cinema, como se continuássemos na sala escuta, sem encontrar a saída.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Pleasantville - Todas as cores do pensamento

Em Pleasantville o breackfast nunca atrasa, as pessoas são sempre gentis e o time de basquete nunca perde. Ninguém tem motivo para mudar as coisas, está tudo tão perfeito. Além do mais, para as pessoas do seriado da década de 1950, ao fim da última rua voltamos ao seu começo.

O filme da década de 1990, Pleasantville – A Vida em Preto e Branco, conta a história de um paraíso perfeito e sem cores. Até que dois irmãos usam um controle remoto com poderes mágicos e entram no antigo seriado de televisão chamado Pleasantville. David (Tobey Maguire) era um fã da história e sabia exatamente o que fazer para que tudo acontecesse como o esperado, mas Jennifer (Reese Whisterpoon) não estava comprometida em mudar para que Pleasantville permanecesse como era.

Jennifer, agora Mary Sue, queria se divertir e encontrou no lindo capitão do time de basquete um brinquedo ideal. Assim, a cidade conheceu o desejo e, com ele, o vermelho de uma rosa. Aos poucos, as pessoas que ousavam ser únicas começaram a ganhar cores, ter pensamentos autênticos e sentir desejos.

Por mais que os “governantes” da ordem proibissem as cores, é impossível voltar a ser apenas um espectador da sua própria vida quando se descobre poder ser autor. Quanto mais colorida, mais complexa e contraditória a cidade ficava. Mesmo os censores do "estilo agradável de vida" foram tocados pelas mudanças, mostrando como o pensamento é algo que não se pode governar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O imaginário filme de Doutor Parnassus

“Não se pode impedir que as histórias sejam contadas”, diz o personagem Parnassus ao descobrir não ser um narrador solitário porque alguém, em algum canto e neste momento, está contando uma história que move o mundo, uma narrativa fabulosa, quem sabe, assim como em O Mundo Imaginário de Doutor Parnassus, filme eternamente inacabado para Heath Ledger e concluído por Johnny Depp, Collin Farrell e Jude Law que encontraram na interpretação do personagem Tony uma forma de dizer adeus ao amigo que partiu antes do fim.

Um filme com textura e cheiro, podemos sentir, entrar, fazer parte de um mundo imaginário que povoa a mente do diretor Terry Gilliam, que, assim como em Os 12 Macacos, nos deixa a impressão de que não fomos capazes de entender tudo, a não ser que se assuma uma co-autoria e resolva, por si só, descosturar alguns pontos da narrativa que, de tão entrelaçada, nos perdemos em seus fios.

Até percebermos que as histórias narradas no filme estão ligadas pela possibilidade de escolha de cada personagem. Mas qual caminho? Como saber onde iremos/queremos chegar? Ao atravessar o espelho mágico de doutor Parnassus entramos num mundo de sonhos, onde sapatos gigantes são pequenos barcos e escadas nos levam às nuvens, acompanhados por uma serpente, Tony (Heath Ledger), que nos convida a comer a maçã, a saborear o seu doce e cair com o seu veneno.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O canto de chuva do sabiá

Quando o dia no Ceará amanhece "bonito pra chover" o povo acorda com uma alegria que só vendo. É criança tomando banho na bica, é adulto procurando agasalho e poeta criando letra e melodia para registrar tamanha felicidade, como nos versos de Chover, música de Lirinha e Clayton Barros, do Cordel do Fogo Encantado, banda pernambucana que anunciou seu fim este ano, mas deixou rimas que devem ser lembradas num dia como hoje: "O sabiá no sertão. Quando canta me comove. Passa três meses cantando. E sem cantar passa nove. Porque tem a obrigação. De só cantar quando chove".

Inodoro, incolor e insípida, mas cheia de sentido para o povo de cá, a chuva foi tema de muitas composições nordestinas como bem diria Orlângelo Leal, da banda cearense Dona Zefinha, ao cantar a chuva com tanta emoção, ao ponto de ser "uma coisa certa, sim. Molhar os olhos por te ver chegar" e perceber como pinta de verde o cinza do sertão já com suas primeiras gotas.

Mas a redenção pode se transformar em castigo, como lembra a Súplica Cearense, de Luiz Gonzaga, música recentemente gravada pelo Rappa. Na canção um agricultor pede que Deus "perdoe este pobre coitado. Que de joelhos rezou um bocado. Pedindo pra chuva cair sem parar" e alerta para o perigo de cair muita água neste solo que não está acostumando não e arrastar a alegria de um povo que já anda cansado de tanto sofrer, mas que, mesmo assim, só irá deixar esta terra "no último pau-de-arara".

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A profundeza das palavras de Amós Oz

O que teriam feitos os moradores daquela pequena aldeia cinzenta e triste para que todos os animais desaparecessem, anos atrás, com a escuridão da noite? Teriam os animais existido ou os desenhos da professora Emanuela foram copiados apenas da imaginação dessa mulher solitária?

O livro De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz, é uma misteriosa história de crianças que cresceram temendo o demônio da montanha, Nehi, mesmo sem saber se ele existia, se tinha sido o responsável pelo desaparecimento dos animais e se os próprios bichinhos já estiveram por ali. A única certeza que tinham era a de que o bosque é perigoso e quem entrar nele irá pegar a "doença do relincho" e será caçoado por todos.

Mas duas crianças curiosas resolvem descobrir os mistérios das profundezes do bosque, mesmo que isso implicasse em serem perseguidas por olhares e palavras maldosas da aldeia que já tinha condenado ao deboche e ao isolamento outras crianças e adultos simplesmente por serem diferentes.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Up, Altas Aventuras: a felicidade em aminação


Aventura é viver! Terminei de assistir ao filme Up, Altas Aventuras com esta impressão. Confesso que tive dúvida em alugar um filme de animação sem uma criança para justificar minha escolha, mas o desenho de um velhinho em uma casa alada despertava minha curiosidade e eu estou de férias.

Acabei me encantando com um menino que precisa ajudar um idoso para subir de patente e virar um “grande aventureiro”, mas não sabia que tinha escolhido o velhinho mais teimoso e infeliz da redondeza. Apegado à casa e às lembranças, resolve fugir antes que lhe levassem para um asilo, mas não esperava que o garoto estivesse em sua porta quando soltou centenas de balões que ergueram sua casa rumo à desconhecida América do Sul.

O caminho reservava altas aventuras e a descoberta de que a memória não precisa de objetos e de que o presente é mesmo um presente que devemos dividir com pássaros grandes e coloridos, cachorros atrapalhados e amorosos e meninos protetores da natureza.