quarta-feira, 28 de julho de 2010

O imaginário filme de Doutor Parnassus

“Não se pode impedir que as histórias sejam contadas”, diz o personagem Parnassus ao descobrir não ser um narrador solitário porque alguém, em algum canto e neste momento, está contando uma história que move o mundo, uma narrativa fabulosa, quem sabe, assim como em O Mundo Imaginário de Doutor Parnassus, filme eternamente inacabado para Heath Ledger e concluído por Johnny Depp, Collin Farrell e Jude Law que encontraram na interpretação do personagem Tony uma forma de dizer adeus ao amigo que partiu antes do fim.

Um filme com textura e cheiro, podemos sentir, entrar, fazer parte de um mundo imaginário que povoa a mente do diretor Terry Gilliam, que, assim como em Os 12 Macacos, nos deixa a impressão de que não fomos capazes de entender tudo, a não ser que se assuma uma co-autoria e resolva, por si só, descosturar alguns pontos da narrativa que, de tão entrelaçada, nos perdemos em seus fios.

Até percebermos que as histórias narradas no filme estão ligadas pela possibilidade de escolha de cada personagem. Mas qual caminho? Como saber onde iremos/queremos chegar? Ao atravessar o espelho mágico de doutor Parnassus entramos num mundo de sonhos, onde sapatos gigantes são pequenos barcos e escadas nos levam às nuvens, acompanhados por uma serpente, Tony (Heath Ledger), que nos convida a comer a maçã, a saborear o seu doce e cair com o seu veneno.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O canto de chuva do sabiá

Quando o dia no Ceará amanhece "bonito pra chover" o povo acorda com uma alegria que só vendo. É criança tomando banho na bica, é adulto procurando agasalho e poeta criando letra e melodia para registrar tamanha felicidade, como nos versos de Chover, música de Lirinha e Clayton Barros, do Cordel do Fogo Encantado, banda pernambucana que anunciou seu fim este ano, mas deixou rimas que devem ser lembradas num dia como hoje: "O sabiá no sertão. Quando canta me comove. Passa três meses cantando. E sem cantar passa nove. Porque tem a obrigação. De só cantar quando chove".

Inodoro, incolor e insípida, mas cheia de sentido para o povo de cá, a chuva foi tema de muitas composições nordestinas como bem diria Orlângelo Leal, da banda cearense Dona Zefinha, ao cantar a chuva com tanta emoção, ao ponto de ser "uma coisa certa, sim. Molhar os olhos por te ver chegar" e perceber como pinta de verde o cinza do sertão já com suas primeiras gotas.

Mas a redenção pode se transformar em castigo, como lembra a Súplica Cearense, de Luiz Gonzaga, música recentemente gravada pelo Rappa. Na canção um agricultor pede que Deus "perdoe este pobre coitado. Que de joelhos rezou um bocado. Pedindo pra chuva cair sem parar" e alerta para o perigo de cair muita água neste solo que não está acostumando não e arrastar a alegria de um povo que já anda cansado de tanto sofrer, mas que, mesmo assim, só irá deixar esta terra "no último pau-de-arara".

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A profundeza das palavras de Amós Oz

O que teriam feitos os moradores daquela pequena aldeia cinzenta e triste para que todos os animais desaparecessem, anos atrás, com a escuridão da noite? Teriam os animais existido ou os desenhos da professora Emanuela foram copiados apenas da imaginação dessa mulher solitária?

O livro De repente, nas profundezas do bosque, do escritor israelense Amós Oz, é uma misteriosa história de crianças que cresceram temendo o demônio da montanha, Nehi, mesmo sem saber se ele existia, se tinha sido o responsável pelo desaparecimento dos animais e se os próprios bichinhos já estiveram por ali. A única certeza que tinham era a de que o bosque é perigoso e quem entrar nele irá pegar a "doença do relincho" e será caçoado por todos.

Mas duas crianças curiosas resolvem descobrir os mistérios das profundezes do bosque, mesmo que isso implicasse em serem perseguidas por olhares e palavras maldosas da aldeia que já tinha condenado ao deboche e ao isolamento outras crianças e adultos simplesmente por serem diferentes.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Up, Altas Aventuras: a felicidade em aminação


Aventura é viver! Terminei de assistir ao filme Up, Altas Aventuras com esta impressão. Confesso que tive dúvida em alugar um filme de animação sem uma criança para justificar minha escolha, mas o desenho de um velhinho em uma casa alada despertava minha curiosidade e eu estou de férias.

Acabei me encantando com um menino que precisa ajudar um idoso para subir de patente e virar um “grande aventureiro”, mas não sabia que tinha escolhido o velhinho mais teimoso e infeliz da redondeza. Apegado à casa e às lembranças, resolve fugir antes que lhe levassem para um asilo, mas não esperava que o garoto estivesse em sua porta quando soltou centenas de balões que ergueram sua casa rumo à desconhecida América do Sul.

O caminho reservava altas aventuras e a descoberta de que a memória não precisa de objetos e de que o presente é mesmo um presente que devemos dividir com pássaros grandes e coloridos, cachorros atrapalhados e amorosos e meninos protetores da natureza.