Quando o dia no Ceará amanhece "bonito pra chover" o povo acorda com uma alegria que só vendo. É criança tomando banho na bica, é adulto procurando agasalho e poeta criando letra e melodia para registrar tamanha felicidade, como nos versos de Chover, música de Lirinha e Clayton Barros, do Cordel do Fogo Encantado, banda pernambucana que anunciou seu fim este ano, mas deixou rimas que devem ser lembradas num dia como hoje: "O sabiá no sertão. Quando canta me comove. Passa três meses cantando. E sem cantar passa nove. Porque tem a obrigação. De só cantar quando chove".
Inodoro, incolor e insípida, mas cheia de sentido para o povo de cá, a chuva foi tema de muitas composições nordestinas como bem diria Orlângelo Leal, da banda cearense Dona Zefinha, ao cantar a chuva com tanta emoção, ao ponto de ser "uma coisa certa, sim. Molhar os olhos por te ver chegar" e perceber como pinta de verde o cinza do sertão já com suas primeiras gotas.
Mas a redenção pode se transformar em castigo, como lembra a Súplica Cearense, de Luiz Gonzaga, música recentemente gravada pelo Rappa. Na canção um agricultor pede que Deus "perdoe este pobre coitado. Que de joelhos rezou um bocado. Pedindo pra chuva cair sem parar" e alerta para o perigo de cair muita água neste solo que não está acostumando não e arrastar a alegria de um povo que já anda cansado de tanto sofrer, mas que, mesmo assim, só irá deixar esta terra "no último pau-de-arara".
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