
O sertão está em toda parte
Guimarães Rosa
Guimarães Rosa
Barro Vermelho é um lugarejo com uma dúzia de casas espalhadas pelas margens do asfalto novo, onde carros e caminhões passam indiferentes aos sorrisos e gentilezas de Dona Luzia, matriarca da família que me acolheu durante as oficinas de rádio-escola de Crateús.
A única escola do lugar era também a morada de muitos pássaros que teimavam em participar das oficinas, cantando mais alto do que qualquer um conseguia falar, mas de grande valia para mostrar um belo exemplo de efeito sonoro. Da porta da escola podíamos ver um horizonte sem fim, uma serra que depois descobri ser chamada “das Almas” e um verde que aparece vibrante com a primeira gota de chuva.
Mas, para conhecer a beleza secreta de Barro Vermelho é preciso esperar a chegada da noite. Sem a concorrência dos postes ou mesmo da lua que naqueles dias era nova, as milhares de estrelas, imagem inédita para a menina da cidade que sou, tomaram conta do céu. Num passeio pela beirada do asfalto podíamos ver as estrelas pelo reflexo do açude, deixando uma sensação de que o céu estava ao alcance das mãos. Demorei pra perceber, mas os pingos de luz que piscavam perto de mim eram vaga-lumes, completando o cenário de magia e revelando que o segredo do sertão é dar o devido destaque ao que realmente é belo.
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